O sábado e o domingo estivem a prospectar o val do rio Esla, em terras de Zamora. Certamente que gostaría de ir até as Arribas do Douro, mas nom disponho do tempo necessário; e este canom do Esla vém a ser um bom "sucedáneo" para os que desfrutamos no monte mediterránico.
Já conhecia a zona de "Puente Quintos". Desta volta escolhim o entorno da vila de Bretocino, rio arriba. Um lugar do que tinha moi boas referências.
Paisagens vegetais
Rio Esla
A primeira das rotas, que percorrim o sábado, foi a carom mesmo do rio, pola parte mais baixa do val.
Se Galiza é terra de salmónidos, Castilla é terra de ciprínidos. A existência de grandes rios com pouca corrente, assi coma numerossas charcas e lagoinhas espalhadas pola Meseta, favorece a pervivência desta familia de peixes, maioritarios nas augas estancadas e de curso lento.
Desde a mesma beira do rio, pódem-se albiscar varias espécies que se achegam habitualmente às partes menos fondas: Vermelhas (
Rutilus arcasii), Escalos (
Leuciscus carolitertii), Barbos (
Barbus Bocagei),.. Mesmo apareceu um Góbio (
Gobio gobio), que nom me deu tempo a fotografar.
A primeira image penso que se trata dunha Vermelha jovem:
Vermelha (Rutilus arcasii)?
Bos exemplares de Barbo remegiam nos fondos lamacentos, na procura de invertebrados com os quais se alimenta. Para este galego de litoral, estas observaçoes de tanta diversidade piscícola som quasse umha raridade!
Barbo (Barbus Bocagei)
E onde há peixes, estám também os seus predadores. Uns berros escandalosos chamárom a minha atençom e descobrím umha Lontra (
Lutra lutra) que expulsaba outro mustélido na beira oposta do rio. Nom tivem tempo a determinar se o segundo exemplar era outra Lontra ou um Vissom americám.
Lontra (Lutra lutra)
Polo caminho, surprendia umha Lebre (
Lepus granatensis) a primeira hora da manhá. A verdade é que estou afeito a vê-las em áreas abertas da estepa cerealista, mas nom a carom dumha ribeira fluvial com abondossas árbores caducifólias. Zamora sempre sorprende ao naturalista!
Lebre ibérica (Lepus granatensis)
Dadas as boas condiçons do hábitat e já que eram horas da manhá em um dia soleado de Junho, esperava me atopar mais répteis. Apenas umhas quantas Lagartixas-rabudas (
Psammodromus algirus) ao pé das Azinheiras. Porque, certamente, poucos lacértidos som tam característicos do bosque mediterráneo aberto coma esta
psammodrommus. Umha parelha pousou para o fotógrafo sobre a sua pedra favorita. No mundo da herpetologia nom é doado atopar exemplares "aparelhados" ao estilo de vertebrados superiores coma aves ou mamíferos, e sempre chama a atençom do observador inquisitivo.
Parelha de Lagartixas rabudas (Psammodromus algirus).
Baixo as pedras da ribeira, achei várias Cobras aquáticas viperinas (
Natrix maura). Este juvenil da foto, ante a ameaça da minha presença, desenvolveu o "protocolo" de actuaçom que lhe valeu o nome de "viperina". Toda umha série de elementos teatrais coma esmagar o corpo, inchar a cabeça e fazer amagos de ataque, ao estilo das víboras verdadeiras. Um comportamento que os expertos denominam "mimetismo batesiano", e que acontece moi a miúdo no mundo natural, especialmente entre os insectos.
Cobra aquática viperina (Natrix maura) juvenil
O sábado, quando voltava para o hotel em Villalpando, atopei este Cobregom (
Malpolon monspessulanus) recém atropelado. Baixei do carro para o medir e para fotografar (1670 mm de bicho!)
Cobregom (Malpolon monspessulanus)
Mentras colocava a serpe em umha postura natural, antes de que começase o
rigor mortis, aparesceu um labrego que, ao me ver manipulando aquela cobra, paróu o carro e baixou del. Logo da sorpresa inicial,
informou-me de que "el ICONA (Instituto para a Conservaçom da Natureza em Espanha) suelta las culebras y topos desde las avionetas, para dar de comer a las águilas". Resulta moi triste comprovar que a ignoráncia nom tem fronteiras nem pátria. Quantas vezes terei escoitado isso mesmo aos paisanos do rural galego!!
O percorrido por áreas de mato ou floresta mediterránea a primeira hora da manhá em um dia de Primavera é umha experiência que nom se pode perder nenhúm naturalista. A quantidade e variedade de cantos de paxaros ouvidos enchen os ouvidos de maneira que úm nom sabe cara onde dispór a atençom. Se ademais nesa zona há curtados rochosos, a presença de grandes rapazes está garantida. Ao longo da manhá do sábado foron aparecendo Águias caudais (
Hieraaetus pennatus), 2 Águias reais (Aquila chrysaetos) adultas (ou quasse) e 4 Voitres comúns (
Gyps fulvus).
Águia caudal (Hieraaetus pennatus)
Águia real em vó
Na seguinte foto, moi mala, vem-se duas águias pousadas juntas antes de começar a remontar coas térmicas. Umha parelha, acaso?
Águias reais (Aquila chrysaetos) descansando numha pena
Voitre comum (Gyps fulvus)
A diversidade de aves é absolutamente abraiante. Picanços cabecirruivos (
Lanius senator) e meridionais (
Lanius meridionalis) destacavam sobre as suas perchas de caça. De fondo, os numerossos cantos de Rulas (
Streptopelia turtur), Ouriolos (Oriolus oriolus) , Cucos (
Cuculus canorus) Papujas carrasqueiras (
Sylvia cantillans) Folosas amarelas (
Hippolais polyglotta), e Rosusinois (
Luscinia megarhynchos) eran as mais numerossas nas zonas de mato ou con arboredo mesto. Nas riveiras do Esla as Folosas grandes (
Acrocephalus arundinaceus) e dos carriços (
Acrocephalus scirpaceus), os Rousinois bastardos (
Cettia cetti) e outros passeriformes faziam-se notar também.
Picanço cabecirruivo (Lanius senator) carrejando bicada
Nas áreas máis abertas eran abondossos Abelharucos (
Merops apiaster), Bubelas (
Upupa epops), Xílgaros (
Carduelis carduelis), Pardais chiadores (
Petronia petronia), Cotovias pequenas (Lullula arborea) e cristadas (Galerida cristata). Sabia da presença da Cotovia montessa (
Galerida theklae) pola informaçom dos blogues locais da zona (
el pernil e
la biosfera que nos rodea), e estivem na procura da espécie. Tirei várias fotos a algúns exemplares de
Galerida sp que cantavam desde as pequenas azinheiras que medran na ladeira de Bretocino e, graças às indicaçons de Alfonso Rodrigo, averigüei que se trata finalmente de Cotovias montessas (
Galerida theklae)
Abelharucos (Merops apiaster)
Cotovia montessa (Galerida theklae)
Cotovia montessa (Galerida theklae)
A tarde do sábado, em uns cultivos abertos, outra sorpresa: um Pedreiro marelo (
Oenanthe hispanica) macho com gorja preta. Ténho visto a espécie nas Arribas do Douro, mas nom conhecia que aparecesse em latitudes tam septentrionais durante o período reprodutor.
Pedreiro marelo (Oenanthe hispanica)
E o melhor da toda a excurssom agardava nas ladeiras da marge dereita do rio, perto de Bretocino. Se há um paxaro difícil de observar em Galiza(e mais aínda de fotografar) é a Escribenta das hortas (
Emberiza hortulana). E resulta que atopei um lugar onde no só era comúm senom mesmo abondosso e até doado de observar! Aproveitei para familiarizar-me na medida do possível co seu comportamento, hábitat e vozes. Na Galiza apenas existe no quadrante suroriental (a zona máis mediterránea do país) e semelha que está a desaparecer dalgún lugares onde o tinha visto anos há, na ourensá Serra da Lastra. Com o objectivo de aprender sobre a espécie adiquei várias horas en exclusiva a observar as Escribentas e fotografá-las.
Semelha que quando há umha maior densidade, amossa um comportamento mais confiado (os exemplares galegos som extraordinariamente tímidos e fugem a muita distáncia do observador!). Ademáis, parez que escolhem hábitats nom tam abertos coma imaginava, com clara preferência por lugares de arboredo espalhado de Azinheiral baixo (
Quercus ilex). Em fim, tivem ocassom de aprender moitas cousas sobre esta autêntica raridade do panorama ornitológico galego, e que espero poder empregar para localizar melhor os escasos exemplares galegos que aínda pervivem no Parque Natural da Serra da Lastra e outros montes ourensáns.
Escribenta das hortas (Emberiza hortulana)
O domingo, logo de queimar a pel baixo o sol e os 30 graos de Zamora, voltava a um Ferrol que me recebia co céu cuberto, chuviscas e uns frescos 17 graos. Um cámbio que era aínda máis brutal no que a riqueça natural se refire. Botarei de menos aquelas terras durante uns meses, até que disponha dumha nova oportunidade pra a visitarem.
Com umhas imagens do entorno de Bretocino, despido-me de vós até a próxima.
Paisagem de Zamora
Um saúdo!